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    A flora do arquipélago da Madeira

    Mais de 900 plantas diferentes (espécies, subespécies ou variedades) compõem a flora vascular nativa da Madeira; dessas, umas 170 são endémicas do arquipélago, algumas pertencendo a géneros endémicos (de que há cinco: Chamaemeles, Melanoselinum, Monizia, Musschia e Sinapidendron). Às espécies reliquiais da laurissilva somam-se as de origem africana, europeia e até americana, num fértil cruzamento de continentes e de eras geológicas.

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    Ocupando 20% da superfície da ilha, a laurissilva da Madeira é a mais extensa e bem conservada floresta em território português, e cabe-lhe igual palmarés se a compararmos com as florestas das demais ilhas dos arquipélagos da Macaronésia (Açores, Madeira, Canárias e Cabo Verde). Dominada por lauráceas (til, loureiro, barbusano e vinhático) e por outras árvores de lustrosa folhagem perene (como o azevinho e o folhado), representa um tipo de floresta que se estendia por grande parte do sul da Europa e do norte de África e que, na nossa era, após os episódios de glaciação o terem feito recuar nas massas continentais, praticamente só sobrevive nas ilhas. Por isso as espécies arbóreas que povoam a laurissilva madeirense são tidas como reliquiais: elas ou as suas antepassadas directas tiveram outrora distribuições muito mais vastas. O mesmo vale para algumas componentes usuais do sub-bosque: grandes fetos como Woodwardia radicans, Culcita macrocarpa, Diplazium caudatum e Pteris incompleta têm hoje o grosso das suas populações na Macaronésia.

    Mas nem toda a flora da Madeira (mesmo aquela que constitui a laurissilva) se pode considerar reliquial, constituída pelo que se convencionou chamar paleoendemismos. A maioria das espécies que povoam o arquipélago tem origem posterior, descendendo de plantas que lograram colonizar as ilhas a partir dos continentes mais próximos – e que, pelas vicissitudes de adaptação aos seus novos habitats, muitas vezes evoluíram para espécies novas, a que hoje chamamos neoendémicas. Outras, porém, pouco ou nada mudaram para se adaptar à sua nova casa. Em todo o caso, é possível reconhecer na flora madeirense elementos mediterrânicos, europeus, africanos e americanos (estes últimos mais escassos por óbvias razões geográficas), devendo entender-se, nessa classificação, que os antepassados mais directos ou os parentes vivos mais próximos dessas plantas provêm desses continentes ou regiões. Eis alguns exemplos:

    • Elementos mediterrânicos. Boa parte da flora madeirense insere-se em linhagens que se distribuem por ambas as margens da bacia mediterrânica (norte de África e sul da Europa). A Euphorbia piscatoria é parente próxima da circum-mediterrânica Euphorbia dendroides, assim como a oliveira madeirense (Olea maderensis) o é da oliveira mediterrânica (Olea europaea); e também os géneros Myrtus ou Rhamnus representam na Madeira outras tantas estirpes mediterrânicas que não sofreram transformações radicais na sua adaptação às ilhas. Mas já outros géneros, como Digitalis, Echium ou Musschia, desenvolveram hábito lenhoso a partir de antepassados herbáceos (presumivelmente) mediterrânicos, constituindo exemplos de gigantismo insular.
    • Elementos europeus (ou euro-siberianos). As três espécies de Saxifraga endémicas do arquipélago têm contrapartidas óbvias na actual flora europeia: a S. portosanctana, por exemplo, é muito semelhante à cantábrica S. trifurcata. Outros casos de versões insulares de plantas europeias são a Erica maderensis (muito próxima da E. cinerea), Thymus micans (talvez o mesmo que T. caespititius), Viola paradoxa e Sorbus maderensis (variação da S. aucuparia).
    • Elementos africanos. Os géneros Aeonium e Aichryson, ambos quase restritos à Macaronésia (com excepção de duas espécies de Aeonium na África Oriental), chegaram à Madeira por via das Canárias, onde evoluíram a partir de antepassados herbáceos norte-africanos. O Aeonium glutinosum é um dos muitos exemplos de caulirrosulada na flora madeirense: é uma planta lenhosa e as folhas concentram-se em rosetas nas extremidades dos ramos. Também o famoso dragoeiro (Dracaena draco) é um caulirrosulado insular de origem africana. Os géneros Aeonium e Sideroxylon, distribuídos em ambas as margens do continente africano, pertencem a um cortejo de taxa designado Rand Flora. Na flora pteridófita madeirense há espécies claramente africanas: tanto o Asplenium monanthes como o Asplenium aethiopicum têm distribuições alargadas em África; e a Arachniodes webbiana, endémica da Madeira, tem uma irmã na África do Sul, Arachniodes webbiana subsp. foliosa. O género macaronésico Phyllis, composto por duas espécies, só uma delas presente na Madeira, tem fortes afinidades com vários géneros sul-africanos.
    • Elementos americanos. As parentes mais próximas da Goodyera macrophylla, uma rara orquídea da laurissilva madeirense, vivem na América do Norte e na América Central. E o feto Elaphoglossum semicylindricum, tido como endémico da Madeira e dos Açores, é muito semelhante (ou talvez idêntico) ao Elaphoglossum paleaceum, das florestas tropicais do México e da América Central.

    Da sombria e enevoada laurissilva à escarpada e nua cordilheira central, das falésias soalheiras da costa sul à acidentada e húmida costa norte, são muito diversificados os habitats da ilha da Madeira. Alguns dos géneros insulares tiveram artes de desenvolver espécies distintas para cada tipo de habitat, num fenómeno conhecido como radiação adaptativa. Um bom exemplo é o género Sinapidendron (mostardas arbustivas): existem duas espécies de baixa altitude, uma na costa norte da Madeira (S. gymnocalix) e outra na costa sul (S. angustifolia); existe uma de alta montanha (S. frutescens subsp. frutescens) e outra que prefere a laurissilva (S. rupestre); e, finalmente, existe uma (S. sempervivifolium) que é exclusiva da Deserta Grande. Também o género Musschia, apesar de ter apenas três espécies, se adaptou a habitats diversos: a M. aurea distribui-se pelo litoral da Madeira, a emblemática caulirrosulada M. wollastonii vegeta na laurissilva, e a M. isambertoi vive apenas na Deserta Grande.

    Pelo seu aspecto árido, Porto Santo contrasta fortemente com o verde luxuriante da Madeira. O relevo suave da ilha não oferecia obstáculos à acção humana, e por isso o seu coberto arbóreo original foi quase inteiramente extirpado nos séculos que decorreram desde o início do povoamento. Num esforço para contrariar a desertificação, os cumes de Porto Santo foram arborizados ao longo do século XX com coníferas exóticas, sobretudo Cupressus macrocarpa e Pinus halepensis. Contudo, a vegetação herbácea e arbustiva da ilha logrou em grande parte sobreviver ao depauperamento do coberto vegetal – e, além das plantas que partilha com a vizinha Madeira (com xerófitas como a Euphorbia piscatoria a assumir o maior protagonismo), Porto Santo conta com pelo menos treze espécies ou subespécies endémicas. A maioria delas refugia-se nos picos da ilha ou nos ilhéus adjacentes, mas há quatro com distribuição predominantemente costeira, entre elas se destacando pela originalidade a leguminosa Lotus loweanus.

    Bibliografia

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    Grande parte da vegetação nativa e endémica do Porto Santo refugiou-se nos picos da ilha, e é o Pico Branco que reúne maior número de espécies raras. Nesta escarpa surge o raríssimo Erysimum arbuscula; no topo vêem-se ciprestes-de-Monterey, espécie muito usada na arborização da ilha.

    172
    espécies encontradas
    (inc. cat. subespecíficas)

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    Matthiola maderensis

    Matthiola maderensis
    Echium nervosum

    Echium nervosum
    Euphorbia piscatoria

    Euphorbia piscatoria
    Phagnalon lowei

    Phagnalon lowei
    Micromeria thymoides

    Micromeria thymoides subsp. thymoides
    Sibthorpia peregrina

    Sibthorpia peregrina
    Aeonium glandulosum

    Aeonium glandulosum
    Aeonium glutinosum

    Aeonium glutinosum
    Erica platycodon

    Erica platycodon subsp. maderincola
    Andryala glandulosa

    Andryala glandulosa
    Aichryson divaricatum

    Aichryson divaricatum
    Aichryson villosum

    Aichryson villosum
    Lotus glaucus

    Lotus glaucus subsp. floridus
    Geranium palmatum

    Geranium palmatum
    Argyranthemum pinnatifidum

    Argyranthemum pinnatifidum subsp. pinnatifidum
    Clethra arborea

    Clethra arborea
    Lotus macranthus

    Lotus macranthus
    Pericallis aurita

    Pericallis aurita
    Sonchus parathalassius

    Sonchus parathalassius
    Artemisia argentea

    Artemisia argentea
    Crambe fruticosa

    Crambe fruticosa subsp. fruticosa
    Sinapidendron angustifolium

    Sinapidendron angustifolium
    Vaccinium padifolium

    Vaccinium padifolium
    Dryopteris aitoniana

    Dryopteris aitoniana
    Helichrysum melaleucum

    Helichrysum melaleucum subsp. melaleucum
    Helichrysum obconicum

    Helichrysum obconicum
    Melanoselinum decipiens

    Melanoselinum decipiens
    Musschia wollastonii

    Musschia wollastonii
    Olea maderensis

    Olea maderensis
    Vicia costae

    Vicia costae
    Andryala subglabrata

    Andryala subglabrata
    Echium candicans

    Echium candicans
    Echium portosanctensis

    Echium portosanctensis
    Genista tenera

    Genista tenera
    Helichrysum melaleucum

    Helichrysum melaleucum subsp. roseum
    Limonium lowei

    Limonium lowei
    Lotus loweanus

    Lotus loweanus
    Musschia aurea

    Musschia aurea
    Polystichum falcinellum

    Polystichum falcinellum
    Ruscus streptophyllus

    Ruscus streptophyllus
    Sideritis candicans

    Sideritis candicans var. candicans
    Sideroxylon mirmulans

    Sideroxylon mirmulans
    Sinapidendron gymnocalyx

    Sinapidendron gymnocalyx
    Sonchus fruticosus

    Sonchus fruticosus
    Sonchus ustulatus

    Sonchus ustulatus subsp. ustulatus
    Tolpis macrorhiza

    Tolpis macrorhiza
    Anthoxanthum maderense

    Anthoxanthum maderense
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    Argyranthemum pinnatifidum subsp. succulentum
    Carduus squarrosus

    Carduus squarrosus
    Ceterach lolegnamense

    Ceterach lolegnamense
    Helichrysum devium

    Helichrysum devium
    Saxifraga maderensis

    Saxifraga maderensis
    Sedum fusiforme

    Sedum fusiforme
    Sideritis candicans

    Sideritis candicans var. multiflora
    Sinapidendron frutescens

    Sinapidendron frutescens subsp. frutescens
    Sonchus pinnatus

    Sonchus pinnatus
    Teucrium betonicum

    Teucrium betonicum
    Viola sequeirae

    Viola sequeirae
    Anthyllis lemanniana

    Anthyllis lemanniana
    Arachniodes webbiana

    Arachniodes webbiana
    Armeria maderensis

    Armeria maderensis
    Bystropogon maderensis

    Bystropogon maderensis
    Calendula maderensis

    Calendula maderensis
    Carex lowei

    Carex lowei
    Chamaemeles coriacea

    Chamaemeles coriacea
    Cheirolophus massonianus

    Cheirolophus massonianus
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    Convolvulus massonii
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    Crambe fruticosa subsp. pinnatifida
    Crepis andryaloides

    Crepis andryaloides
    Dactylorhiza foliosa

    Dactylorhiza foliosa
    Erysimum arbuscula

    Erysimum arbuscula
    Festuca jubata

    Festuca jubata
    Galium productum

    Galium productum
    Geranium maderense

    Geranium maderense
    Lotus argyrodes

    Lotus argyrodes
    Orchis scopulorum

    Orchis scopulorum
    Peucedanum lowei

    Peucedanum lowei
    Rubus serrae

    Rubus serrae
    Sambucus lanceolata

    Sambucus lanceolata
    Saxifraga pickeringii

    Saxifraga pickeringii
    Saxifraga portosanctana

    Saxifraga portosanctana
    Scrophularia lowei

    Scrophularia lowei
    Sedum farinosum

    Sedum farinosum
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    Sideritis candicans var. crassifolia
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    Sinapidendron frutescens subsp. succulentum
    Sinapidendron rupestre

    Sinapidendron rupestre
    Sonchus ustulatus

    Sonchus ustulatus subsp. maderensis
    Teline maderensis

    Teline maderensis
    Teucrium heterophyllum

    Teucrium heterophyllum subsp. heterophyllum
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    Viola paradoxa
    Agrostis obtusissima

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    Andryala crithmifolia
    Argyranthemum haematomma

    Argyranthemum haematomma
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    Berberis maderensis

    Berberis maderensis
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    Bunium brevifolium
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    Deschampsia argentea

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    Erica maderensis

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    Marcetella maderensis

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    Pode adicionar pesquisas com qualquer tipo de critérios. Os resultados aparecerão agregados numa só camada.
    Com esta funcionalidade pode projectar e sobrepor os registos individuais de espécies ou os resultados de consultas mais complexas (exemplo) no espaço formado por 11 variáveis físicas e bioclimáticas. Pode assim explorar visualmente as preferências bioclimáticas das plantas e as diferenças existentes entre espécies (exemplo). Os índices bioclimáticos utilizados foram desenvolvidos por Monteiro-Henriques, T. 2010 e Monteiro-Henriques, T. et al. 2015, e podem ser descarregados aqui. [fechar]


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